Lembrar pra não esquecer: leveza do final da escada.
A temperatura baixa no
vigésimo dia do mês cinco é uma fortaleza que auxilia a reconstrução das
estruturas até então abaladas. Reconfigurações, alterações de data e hora,
ativação de um novo operacional e também, decodificar de forma clara, precisa e
honesta os estímulos externos que sempre estão conosco. Tudo quieto, calmaria e
leveza dominical permitem isso. Frio dominante, ingestão de mais carboidratos
que o necessário e ânimo de fazer bolo às 4:20h deram o tom do dia, entretanto,
a cada minuto que se passava, novas percepções adentravam e isso, independente
do dia e da hora, mexe e remexe por completo.
Existe uma lógica, às
vezes um tanto quanto sacana (no sentido ácido da coisa) que nos concede
anestesiar alguns pontos vitais de nossa percepção. E claro, com a “vida
moderna” certas obrigações parecem que tomam contam de tudo isso e as sensações
tornam-se insensíveis. Tipo as cobranças que temos de um rápido feedback sobre
um link enviado no chat, um contato que é solicitado, uma marcação em
postagem... o carro mais rápido no trânsito mais lento, hehehe.. Tais
exigências nos deixam de canto, aprisionados e pressionados pelas mãos de quem
ainda pulsa o coração pra nós. A gente nem percebe... nem eles (as) e nem nós.
A gente ta tudo anestesiado. Ou com excesso de um atruísmo aí.. vai saber!
Ontem fui ao mercado
com Bonita (ela de fato faz jus ao carinhoso nome que a chamo, ela é incrível
de tão Bonita!) e no caminho paramos numa escada, já nos últimos degraus e ali,
doces e afáveis com nós, dissemos palavras muito fortes, trocamos olhares e
continuamos a caminhar. No decorrer do caminho, entre um papo e outro com ela,
me vi muito tocado por tudo aquilo e ao analisar na situação tensa que me
encontro, observo que é muito delicada essa divisão de sentimentos que define,
de forma cruel e visível, o lado de ti que goza das melhores coisas da vida e
ao mesmo tempo, o quanto de nós estamos ali, com as mais variadas questões nos
dizendo bom dia e convivendo com nossa passividade. Ali com ela e também em
outros momentos percebi que às vezes, um cansaço de vida, de um operacional que
parece não funcionar acaba soando como um exílio (auto imposto, talvez de forma
inconsciente) e claro, o mesmo nos enterra em solidão, em tatear e não sentir,
em ver e não perceber e até mesmo, apagar certas sensações que nos acompanham
faz com que um diagnóstico mais preciso sobre o que de fato acontece venha com
maior precisão.
Esse tempo escasso, a
busca por mais tempo me fez lembrar o Roy, replicante da geração Nexus 6 lá do
Blade Runner. Mais e mais tempo – time enough – pra apreciar mais e mais coisas
de sua passagem.
A nossa sensação é similar a que o andróide almeja, embora
ache que no final da película ele se torna mais humanos que os humanos do
filme, hahaha.. Brincadeiras a parte, o que podemos aguçar em nós em cada
vivencia, cada convívio harmonioso e em cada abraço que eu puder dar na Bonita
a caminho do mercado sejam primordiais, em seu grau máximo de sentimento, capaz
de repelir toda e qualquer interferência negativa nas sensações e, claro,
exaltando sempre a unidade dessa maravilha que é a nossa vida.
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