buro

a gente é buro né?
a gente se desfaz do que tem
em frações de segundos
a gente não tem o menor tato
com o que de melhor é ofertado
tem o ego que é grande, espaçoso
tem a voz que só quer vez
tem a falta de carinho
a falta, a renúncia e o apego
mas só do que não presta

nessa daí, a gente surta e nem vê
a gente clama por ajuda e tá só
nessa daí, a gente só dá com a cara
na porta (dos desesperados)
a gente clama por ajuda e vê
que tem quem ajude, ferido..
mas ajuda



a gente dorme, acorda, come
anda, paga conta, sonha, faz planos
quer o quintal cheio, quer o cachorro,
o varal colorido, café fresco na tarde
a gente tem tato pra isso, não usa..
mas tem

a gente quer tudo isso e não quer se olhar
não se permite ser um outro viés, uma outra
forma de uma nova crescente..
pra si e pro (a) outro (a)
a gente grita, xinga, esbraveja
perde a noção do espaço, faz nada ter sentido
a gente até quer aprender..
aí tu lembra lá da tua mãe falando:
querer não é poder

mais uma vez a cara na porta
o mindinho do pé na quina da cama
o feijão quente que gruda no fundo da panela
e quem ta ao lado usa a vez a voz pra alertar
oferece a mão pra levantar

a gente cheio de espaço e de razões
grita, xinga, esbraveja e perde a noção do espaço

a gente é buro né?

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